Feed-back é dos recursos mais preciosos aos quais podemos aceder e também das prendas mais preciosas que podemos oferecer aos outros. E é fácil demonstrar-te porquê. Todos conhecemos pessoas na nossa vida – colegas de trabalho, familiares, amigos – que têm comportamentos ou atitudes que não as beneficiam. Ou porque são muito agressivas, ou porque têm a mania da perseguição, ou porque são desleixadas no seu aspecto físico ou higiene, ou porque são demasiado 'boazinhas' e toda a gente se aproveita delas, etc. Mais, todos nós já reparámos várias vezes que muita gente à nossa volta têm exactamente a mesma opinião sobre essa pessoa. E o que acontece? Frequentemente, nada. Não alimentamos em Portugal uma cultura de dar e receber feed-back. Ninguém fala com essa pessoa directamente sobre o assunto em questão, de uma forma que ela consiga receber e assim beneficiar de informação que pode fazer uma diferença significativa na sua história. Em vez disso passa o resto da vida na ignorância.
Descobrir o que os outros pensam sobre nós pode ser muito assustador e surpreender-nos de forma inesperada e difícil de digerir. Até porque as pessoas podem pensar coisas sobre nós que pura e simplesmente não são verdade. Provavelmente é mais confortável mantermo-nos a marinar num santa ignorância... É preciso coragem para ouvir feed-back? Sem dúvida! E para pedir? Mais ainda!! Mas vale a pena? A minha resposta pessoal a essa pergunta é sempre 'sim!'
Como receber feed-back em três actos:
- Ouvir. Ouvir mesmo. Até ao fim. Sem interromper, nem contestar, nem concordar, nem comentar. Mesmo que estejas a ouvir a maior atrocidade da História. Ou que a pessoa não esteja a dizer nada de interessante ou que a oiças a repetir-se há 10 minutos. Dar feed-back é difícil e a maior parte das pessoas não está habituada a fazê-lo, é natural que 'meta os pés pelas mãos'. Sê paciente, espera que a pessoa acabe, pode ser que no fim, ou à posteriori, encontres um tesouro naquilo que te foi oferecido. É frequente ouvirmos feed-back que nos desagrada e reagirmos rapidamente, tentando convencer a pessoa que o oferece que está enganada mesmo antes que ela acabe de falar – é um erro de amador, não faças isso, só conseguirás que a pessoa desista mais depressa da tentativa de te explicar. Alguém está a fazer um esforço para te ajudar, mostra-lhe que vale a pena, repira fundo e ouve até ao fim.
- Responder. O segundo ponto tem rasteira, a melhor resposta que podes dar depois de receber feed-back é: não responder. Na maioria dos casos, o mais sensato é apenas agradecer a disponibilidade da pessoa para te ajudar e dizer que vais reflectir no que acabaste de ouvir. Se te pareceu um enorme disparate que não faz sentido nenhum, é possível que a tua reacção emocional esteja a dificultar-te a capacidade de encontrar alguma verdade no que te foi dito, é sensato evitar respostas precipitadas e permitires-te digerir o que ouviste antes de dares uma resposta 'oficial'. Se te fez imenso sentido o que acabaste de ouvir de tal forma que já era óbvio para ti há muito tempo, é possível que haja ainda mais profundidade a descobrir sobre esse assunto se não o puseres de lado como arrumado e em vez disso prestares atenção ao que o teu interlocutor te disse, é sensato evitar respostas precipitadas e permitires-te digerir o que ouviste antes de dares uma resposta 'oficial'. Se ficaste com a sensação que a pessoa não está a dar-te feed-back para te ajudar, mas por outro motivo qualquer menos nobre, lembra-te que podes estar enganado, que ainda assim podes aprender com o que ouviste, e que não ganhas nada em fazer acusações defensivas, é sensato evitar respostas precipitadas e permitires-te digerir o que ouviste antes de dares uma resposta 'oficial'. E por aí fora.
- Digerir. Finalmente, que fazer com a informação, as emoções, o espanto e as dúvidas que vieram ao de cima com o que acabaste de ouvir? Quando estamos a receber feed-back estamos à mercê das projecções dos outros sobre nós*. Isso significa que aquilo que estamos a ouvir sobre nós poderá estar mesmo perto da realidade, ou poderá não ter nada a ver connosco e ter só a ver com a pessoa que nos quis dar feed-back ou, mais frequentemente, poderá ter a ver com ambas, e ser um pouco verdade sobre nós e um pouco verdade sobre o nosso interlocutor. Um exemplo para ficar mais claro: estás a ver aquela pessoa que se irrita com facilidade e adora dizer às outras pessoas que se estão a irritar com facilidade? Ou a pessoa bisbilhoteira que chama toda a gente de bisbilhoteira, ou o teimoso que acusa os outros de teimosos, etc.? Sabendo por um lado que existe o fenómeno da projecção, e por outro lado que à partida que vamos ter tendência para rejeitar o que não gostamos de ouvir, e encontrar muitas explicações 'lógicas' para nos convencermos que temos razão, como saber se o feed-back que recebemos é mesmo disparatado e não se aplica a nós... ou é uma informação preciosa sobre nós que não devemos desperdiçar? Na escola de desenvolvimento pessoal onde mais aprendi sobre receber e dar feed-back, há um ditado que reza assim: “Se alguém te diz que és um cavalo, é evidente que deves ignorar. Se duas pessoas te dizem que és um cavalo, então vale a pena olhar para trás para verificares se vês uma cauda. Se três pessoas te dizem que és um cavalo, vai comprar uma sela”. Por outras palavras, se ouves a mesma coisa repetidamente de várias pessoas, deves-te a ti próprio pelo menos a oportunidade de 1) equacionar que isso possa ser verdade e 2) reflectir sobre as possibilidades e implicações de fazeres mudanças na tua vida de acordo com essa informação. É muito possível que a pessoa que te deu o feed-back tenha projectado em ti coisas que não têm a ver contigo, é possível que tenha acertado em 1% e falhado o resto, é possível até que tenha falado contigo da pior maneira possível. Não deixes que as emoções que estas situações te provocarem te façam desperdiçar o presente que recebeste: aproveita o que fôr útil para ti e liberta-te do resto.
Nota final: precauções de utilização. Não te entusiasmes agora de tal forma que comeces a distribuir feed-back em todas as direcções à tua volta! Dar feed-back é um processo muito delicado, vou falar-te mais sobre isso neste artigo.
E é isto! Se aceitares o desafio do feed-back e quiseres partilhar as tuas experiências com este artigo e a experiência de receber feed-back, eu vou gostar muito de ouvir. Seria um bom feed-back para mim!
Não precisas de arco-íris, há um pote de ouro dentro da tua agenda de contactos e chama-se feed-back, aproveita-o!
Tua Coach,
Mina
* A projecção é um mecanismo de defesa que todos temos, em maior ou menor grau, a nível psicológico, através do qual negamos a existência de impulsos ou características em nós e as vamos encontrar nos outros.